sexta-feira, março 23, 2007

-MafiA-


Sentei-me no canto do sofá olhando todos se distraírem com conversas macabras e formas fáceis de se matar uma vítima. Eu não era quem nem eles, ainda não. Esses assuntos ainda me traziam certa sensibilidade e nervosismo. Ascendi um cigarro e tirei o cabelo dos olhos observando o nada, o espaço em branco entre os gângster animados sentados em volta daquela mesinha de vidro central.
Aline, como sempre, se aproximou de mim retirando o cigarro de minha boca e rompendo assim minha rede de pensamentos. Ela era uma das que reprovava minha atitude de fumar dizendo que eu ainda era muito jovem para acabar com um câncer e morrer. Pensamento irônico considerando que somos todos assassinos e é tão fácil morrer trabalhando quanto se jogando de um prédio de cinco andares. Apenas a olhei de volta balançando devagar a cabeça negativamente. Ela sabia que nada adiantaria mas continuava tentando, quem sabe ela pensasse que eu ainda não era um caso perdido. Assim que se retirou do cômodo ascendi um novo cigarro e me servi de um pouco de whisky.
-Pietro!_ Era o chefe chamando. Muitos me odiavam pela tamanha intimidade com ele, outros temiam essa proximidade agressiva, sabiam que éramos os mais eficientes daquela espelunca e que nada ou ninguém desafiaria aquele poder se quisesse se manter sem uma bala no meio da testa. Tomei um gole da bebida, forte e amarga, gosto de vitória. Deixei o copo em cima da mesa de vidro e me levantei ajeitando a gravata e colocando as mãos nos bolsos. Dirigi-me ao outro cômodo onde Bonifácio se encontrava.
-Sim meu senhor._ Fiz uma pequena reverência me curvando levemente, demonstração de respeito.
-Ahh Pietro! Você é meu filho! Sabe que não precisa dessas formalidades, vamos chame-me de pai!
Apesar de Bonifácio ter me criado desde os dez anos e de ter me ensinado tudo que sabia na arte da morte e da dissimulação, não me sentia a vontade em chamá-lo de pai. Aquele homem era tudo menos um pai para mim. Pais não usavam as mesmas armas de simulação no filho que usava em seus empregados. Pais tem amor pelos filhos e não são somente interessados pelo propósito sujo que eles possam servir. Bem, não vou discutir isso.
O fato é que eu havia me tornado a sua melhor arma. Sempre seguia as suas ordens como um cachorrinho sem questionar nada, fazia os trabalhos de uma maneira rápida e sem causar suspeitas. Eu era o empregado perfeito; sem planos para um futuro, sem desejos, sem preocupações e sem motivações. Não é por menos que ele me chamava de filho. Tinha orgulho de sua obra, tinha orgulho pelo que eu havia me tornado, não de mim.
-Sim senhor._Respondi fitando-o curiosamente nos olho_ Porque me chamou?
-Quero discutir seu pagamento._Bonifácio sorria mostrando os dentes amarelados e o horrível dente de outro que era seu canino. _ Você tem feito um trabalho muito bom ultimamente e acho que você merece um aumento. Estou disposto a lhe dar 25% de tudo garoto.
Era uma proposta exorbitante considerando o que aquele homem ganhava, ele oficialmente estava me colocando na família dele, queria que eu fosse seu braço direito, seu assassino pessoal. Eu tinha certeza que aquilo não era tão simples assim. Tinha alguma jogada e... Saiba que; quando você mexe com a máfia SEMPRE tem uma jogada.
-Mais alguma coisa meu senhor?_ Sabia que havia, mas é preciso jogar o jogo se um dia quer chegar a dar as cartas.
-Só mais uma coisa meu filho querido. Existe um homem...
E tudo sempre começa com existe um homem...
-Que anda atrapalhando extremamente os nosso negócios. Quero que você resolva isso.
-Claro meu senhor. Quem seria?
Bonifácio me fitou por alguns segundos com uma cara de criança safada que vai contar um segredo que não devia.
-Pierre Courie Marcollini.
Desta vez ele me surpreendera. Fiquei o fitando em silêncio por alguns segundo antes de responder. Courie era o governador, um homem extremamente influente e que andava cercado por seguranças. Era um trabalho bastante ambicioso para um homem só. Me demorei a responder e Bonifácio implementou:
-Vamos, esse aumento vai ser uma grande melhoria na vida das suas irmãs. Pense em tudo que poderia dar a elas! É um trabalho irrecusável.
Eu tenho 6 irmãs. Lia, que é mais velha que eu e em seguida na ordem de maior para menor: Mariana, Jully, Anna e Carmen que são gêmeas e a Giovanna, a caçula. Desde que fugimos do centro da França, após o assassinato de meus pais, temos vivido por aqui nos arredores da França. E é por esse motivo também q passei a trabalhar para Bonifácio mas, isso é uma outra história. De qualquer forma, essa foi a maneira que Bonifácio encontrou para fazer de mim seu cachorrinho: Sempre prometeu o que eu precisasse para minhas irmãs.
-Sim meu senhor, sabe que nunca vou desapontá-lo. _Me curvei levemente deixando aquele homem com um sorriso bobo estampado na cara. Eu sabia que mesmo depois de tudo que eu havia feito ele ainda se surpreendia com minha lealdade.

***

Era uma noite extremamente estrelada, coloquei o palitó sobre o ombro e soltei o nó da gravata, caminhei aproveitando a brisa fresca em direção de casa começando a arquitetar um plano.

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