domingo, setembro 17, 2006

Nos trilhos do conhecimento- parte 1.1



Sentou no trem despreocupada. Havia dito a sua mãe que iria apenas a faculdade como sempre mas sabia que na verdade iria fazer uma viajem espetácular. Arrumou sua mochila e foi esperando as estações passarem, os trabalhadores descerem... Observava o rio passando do lado dos trilho, o mesmo rio que um dia tinha água potável e que agora ela não entendia como as capivaras que nadavam por ele não morriam com a quantidade de produtos tóxicos.
Retirou tudo aquilo da sua cabeça. Hoje seria um dia especial. Ela perderia a aula mas valeria a pena.
Finalmente iria descobrir o que havia depois da última estação do trem. Saberia qual era o destino daquelas pessoas que não desembarcavam assim que o trem parava na estação Jurubatuba.
Ansiosa, procurava de olhares de cumplicidade. Olhares de pessoas que também conheciam aquele segredo e que também iam rumo a um mundo desconhecido que ficava além da estação. Talvez o jovem que olhava ansioso para o nome de cada estação que passava, talvez o velhinho que dormia abraçado a uma maleta. Não dava pra saber.
As estações passavam devagar, a garota tremelicava os dedos na borda da janela... Jurubatuba e.... Era agora. A maioria dos restantes passageiros saiu restando apenas um homem e um velhinho bem esquisito. Ela olhou os dois. O velhinho dormia mas o homem não. O homem correspondeu seu olhar com um olhar sério mas um olhar de cumplicidade.
O trem voltou a se movimentar, andou para frente por uns 15 segundos e logo em seguida algo muito estranho aconteceu. Mais a frente havia uma espécie de barreira olográfica ou uma massa estranha e de coloração meio azulada. No momento em que o trem atravessou essa mesma barreira a valocidade aumentou incrivelmente! As paisagens do lado de fora eram apenas borrões, o estômago da menina embrulhou um pouco, aquilo era um tanto quanto nauseante. Ela olhou o homem, ele parecia bem e até um pouco acostumado com aquilo, o velhinho ainda dormia.
Na mesma velocidade que o trem acelerou ele parou. Parou tão bruscamente que a garota foi arremessada para frente se chocando com o banco vaziu. Ela se recompos e sentou novamente no seu lugar. Olhou pela janela e viu um mundo um tanto quanto diferente do qual ela estava acostumada.
-Caraca!
Ela parecia estar olhando para uma cidade futurista daquelas de filmes de ficção científica. Carros voando, pessoas passando com roupas brilhantes, prédios finos de alturas imensas. A garota levantou na intenção de sair mas a porta do vagão permanecia fechada. Ela olhou o homem: Um sujeito de cabelos bem pretos e óculos escuros usando um terno executivo com uma gravata vermelha. Ele nem havia se levantado de seu lugar, apenas olhava a paisagem com a cabeça apoiada na mão esquerda e com um certo tédio. O velho só dormia.
-Moço, o trem não vai abrir a porta?
*ele parou de olhar pela janela e olhou a garota fitando-a por alguns instantes*
-Não nessa estação.
Antes dele continuar o trem acelerou novamente fazendo a garota perder o equilíbrio e ser arremessada, caindo e rolando pelo vagão até parar no fundo do vagão meio quebrada. Com um pouco de força se levantou apoiando na cadeira e voltando a se sentar em alguma das cadeiras. Novamente o trem brecou. Dessa vez ela estava preparada e se segurou. A paisagem havia mudado completamente, uma cidade de gelo no meio de uma imensidão branca. Tudo muito bonito mas muito monocromático. A única cor que não era um tom de branco era a do céu que era um de um azul muito forte.
-Ei garota! Nem levanta que essa não é a nossa estação!
-Como assim a nossa estação?
-Cada vagão leva para uma estação diferente. É a primeira vez que você vem aqui não é? Bem, só vou te avisando das regras: Você só desce na estação que a porta abrir, você não deve falar para os outros sobre esse lugar, você não pode contar as pessoas dos outros mundos sobre outros mundos e, muito menos sobre esse trem.
-Ahmm... Ok ... Eu acho...
A garota nem tinha intenção de fazer aquilo. O único motivo pelo qual ela estava lá era a grande curiosidade de saber o que tinha além de tudo aquilo.
- Certo, hoje estamos indo para a terra 4... Você... perdeu o ponto ou dormiu?
-Não não!_disse a garota orgulhosa_ Eu sempre suspeitei que havia algo depois da última estação do trem!
-Interessante...
-Quantas estações faltam para chegarmos no nosso destino?
-Não a próxima a outra.
-Obrigada!
O trem andou novamente. A próxima estação dava no topo de uma montanha com uma grande quantidade de árvores. Lá de cima era possivel observar uma grande vila (que até poderia ser confundida com uma pequena cidade) com casinhas feitas de madeira e um material que a menina não sabia exatamente qual era. As casinhas tinham uma arquitetura um tanto quanto japonesa e no meio de tudo havia um templo de uns quatro andares com um belo tori na frente.
Mais uma vez o trem andou, a menina ja estava quase se acostumando com aquelas acelerações e paradas bruscas. Quando o trem parou o homem se levantou, retirou o palitó e caminhou até a porta. A menina foi atráz apenas observando pelas janelas do trem a paisagem litorânea.
A porta se abriu e eles saíram. Era uma praia realmente linda, ela nunca havia visto uma praia tão bem cuidada ou tão natural. Abaixou-se e pegou um pouco de areia que era tão fina que foi escorrendo pelo meio de seus dedos e caindo novamente pela praia espalhada pela suave brisa fresca que batia em seu rosto.
-Só mais uma última regra garota_ disse o homem segurando o palitó com uma das mãos pendurado no ombro_ você, sob circunstância nenhuma deve perder o último trem de volta. O último trem sai a meia noite.
-Mas..... Porque?
-Confie em mim. Você não vai querer perder o trem.
O homem sorriu um sorriso um tanto estranho e encarou mais uma vez a garota escondido por seus óculos escuros e saindo devagar andando pela praia. O velhinho continuava a dormir no vagão. A garota ainda ficou lá por mais algum tempo antes de seguir a direção da praia apenas observando a paisagem.
-Eu descobri!_ e sorriu um largo sorriso.

7 Comments:

Mestre Mau said...

A demais! Adorei.
A idéia é no minimo original :D
Eu só não sei como é a protagonista.
Mais tirando isso tá muito legal.

Pioux's said...

Fiz de propósito.... O nome dela nem apareceu ainda =)...
E, afinal de contas nem é importante, é apenas uma pequena história. u.u

Mestre Mau said...

Aw...

Pioux's said...

Ok..... talvez ela seja grande u.u!

Mestre Mau said...

Eeeeeee!

Ozzer Seimsisk said...

uau! hahahahehaha que demais, Clara ^^ vc devia mostrar mais seus escritos se todos forem legais que nem esse...

Eu tb sempre quis saber o que acontece depois da última estação... hm...

Charles Bosworth said...

Hihihi!
Que legal Clara! Desculpe por demorar para ler, mas eu adorei...
Me deu vontade de andar em um trem que circula entre mundos.